...pois todos podem mudar um pedaço do mundo de cada vez.
“De nada adianta preparar minha filha para o mundo se o mundo não estiver preparado para ela”. É assim que a consultora de marketing Viviane Reis explica o motivo de sua luta. Aos 45 anos, é mãe de uma criança com Síndrome de Down e, após se deparar com a falta de informação e o preconceito da sociedade, resolveu criar o Inclusivamente, projeto que busca trabalhar os pilares da inclusão por meio de discussões, cursos e workshops.
Primeiramente, como surgiu essa vontade em você? Como ter uma filha com Síndrome de Down foi diferente no início?
Foi como ter um filho pela primeira vez novamente. Eu estava com muito medo, porque não sabia ainda como lidar com a situação.
No entanto, desde o início procurei pesquisar sobre o assunto, e vi que bebês com Down faziam tudo normalmente. Suas vidas eram diferentes do que eu imaginava. Tive que desconstruir muito do que li, porque muita informação na internet é desatualizada e carregada de preconceito, e percebi que era necessário me informar melhor. Munida de conhecimento e com o apoio de meu marido, percebi que não se tratava de um bicho de sete cabeças.
Você acabou de fundar o inclusivamente. Como foi abraçar essa causa? Em que momento você sentiu que algo deveria ser feito?
Percebi que deveria agir quando entendi que as particularidades falam mais alto que a síndrome. Há um despreparo generalizado em todos os campos para se lidar com as diferenças; famílias estão desinformadas, profissionais da saúde estão defasados e as escolas não sabem como agir. Para reverter essa situação, comecei a procurar parceiros que ajudassem na conscientização desses agentes.
O tripé família – terapeutas – escola é essencial para o desenvolvimento das crianças com deficiência intelectual, e devem trabalhar em conjunto para alcançar melhores resultados. Foi pensando nisso que o Inclusivamente foi feito: convidamos esses agentes para um curso, ministrado pela psicopedagoga Neusa Venditte, que traz informações atualizadas e faz com que trabalhem com coerência entre si.
Apesar do pouco tempo de existência, o projeto já está a todo vapor, capacitando os participantes, disponibilizando materiais e buscando novos parceiros.
Você é, atualmente, porta-voz da causa da inclusão. Como você trabalha esses conceitos nas pessoas? Como “ensinar” alguém a ver essa causa como válida?
É preciso aprender a lidar com as diferenças. A causa da inclusão deve ser alegre.
Há estudos que comprovam que crianças que crescem convivendo com a diversidade são mais maleáveis; da mesma maneira, as pessoas mudam de opinião quando são expostas a mais informações sobre um assunto como a inclusão. Elas vão se abrindo.
É preciso olhar mais para a criança e menos para a deficiência. É algo aprendido com a convivência, com o fim do distanciamento. Inclusão se aprende... incluindo.
Quando você luta por algo, parece que sempre se trata de alguma coisa pesada. Mas esse peso some quando buscamos pessoas para trabalhar em conjunto por um ideal. Quando as pessoas falam a mesma língua, elas se entendem melhor.
Como é a recepção das pessoas ao conteúdo publicado por você? Há partilha de experiências? Você sente que ajuda outros a ver as pessoas com deficiência diferentemente?
Eu sempre digo para os pais: “acredite no seu filho”. Meu trabalho é abrir a mente e o coração das pessoas para a causa. Não é questão de aceitação, é de entender o contexto do outro. É empatia. Por isso, as pessoas reagem ao que escrevo, bem como ao conteúdo do curso.
O Inclusivamente tem hoje uma parceria com o psicólogo e terapeuta Alexandre Rojas, da PsicoEstratégica, e projeto Conviver, também da Neusa, e conta cada vez mais com o apoio de outros especialistas ajudando com informações e práticas. As famílias das pessoas com deficiência também colaboram, opinando sobre pautas e possíveis convidados. A ideia é que o crescimento do projeto faça com que abracemos mais áreas, como saúde e alimentação, de maneira colaborativa. Essa partilha mostra a eles como estarem informados faz toda a diferença na qualidade de vida da criança.
Você acredita que a mobilização comunitária pode fazer a diferença para melhorar a sociedade. Você vê essa mobilização social como uma tendência crescente?
A inclusão é um caminho sem volta. Apenas convivendo conseguimos entender e aceitar o que é diferente, entender o contexto do outro. O que eu faço hoje é pequeno perto do que essas crianças precisam, mas já faz diferença na vida de diversas famílias.
Se cada um fizer um pouquinho, é possível alcançar grandes objetivos, sim. E, cada vez mais, as pessoas rumam para esse entendimento.
Conheça mais sobre o trabalho de Viviane na página do Inclusivamente no Facebook. Clique aqui.
Contato: projetoinclusivamente@gmail.com
Entrevista realizada por Renato Mobaid.
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